sábado, 14 de janeiro de 2012

Artigo de Jehozadak Pereira (parte 2)


Pais reféns – parte 2

Posted by: jehozadakpereira on: July 5, 2007
 
 
 
 
 
 
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Um bebê ao chorar, vai fazê-lo por dor, como já disse, desconforto, fome, e cabe aos pais identificar o que a criança quer. Alguns bebês choram por causa da fralda molhada ou suja, outros por causa de assaduras, e outros ainda porque querem estar no colo. Trabalhei com uma colega, cujo filho chorava dia e noite. Transtornada ela levou o menino ao médico diversas vezes, exames foram feitos e o garoto continuava a chorar. Um dia perguntei a ela se ele chorava na hora que estava comendo. – Não. Foi a resposta dela. – Este menino tem fome, foi o que eu respondi. Minha recomendação foi a de que ela desse a ele alimento sólido, e não é preciso dizer que ele nunca mais chorou daquele modo.
Pais precisam estar atentos para que as necessidades básicas dos seus filhos sejam supridas de acordo com suas fases de crescimento. Uma criança de três meses tem necessidades alimentares compatíveis com sua idade, e assim sucessivamente. Mas nada há mais esperta do que uma criança sadia. Alguns são tão espertos que se transformam em pequenos tiranetes que fazem gato e sapato dos seus pais. Por outro lado há pais que tratam seus filhos de cinco, seis anos como se eles tivessem três meses. Serão sempre eternos bebês que superprotegidos por seus pais, vão fazer destes reféns pela vida toda. Um dos grandes e cruciais problemas de hoje, são os pais que não dão a devida atenção aos seus filhos, e acham que se os disciplinarem incorrerão em erros.
Certa vez eu ouvi uma história interessante de um pastor. Ele foi visitar uma família da sua igreja, e lá chegando o pai todo orgulhoso exibia o novo brinquedo que ele havia comprado para o pequeno filho. Só que o menino estava mais interessado na caixa do que no brinquedo propriamente dito. O pai dispusera de uma pequena fortuna para comprar aquele brinquedo, e o garoto gostava mais da caixa. É um engano pensar que carinho, atenção, educação, disciplina, companheirismo, amizade pode ser suprida com presentes.
Filhos que são criados deste modo invariavelmente são crianças infelizes e serão adultos frustrados.
Pesquisa nos Estados Unidos divulgada em 14 de julho de 2002 pela Agência sobre o Abuso de Drogas e a Saúde Mental, adianta que mais de 13% dos jovens dos Estados Unidos, de idade entre 14 e 17 anos, pensaram em se matar, e apenas 36% deles tiveram assistência psicológica. Foi apontado que três milhões de adolescentes norte-americanos pensaram seriamente em suicídio ou tentaram suicidar-se, revela relatório governamental divulgado em 14/7/2002. O estudo, realizado pela Agência sobre o Abuso de Drogas e a Saúde Mental, adianta que mais de 13% dos jovens dos Estados Unidos, de idade entre 14 e 17 anos, pensaram em se matar, e apenas 36% deles tiveram assistência psicológica.
Um dos motivos? Depressão juvenil. A depressão é a principal causa do suicídio. A notícia adiantou que mais de um terço dos três milhões de adolescentes que admitiram em 2001 a possibilidade de se suicidar tentaram efetivamente se matar. Anos atrás a depressão era um mal que atingia somente adultos, hoje cada vez mais vemos jovens e adolescentes deprimidos por diversos fatores, um deles a da falta de perspectiva que envolva futuro e principalmente família. Os consultórios dos terapeutas nunca estiveram tão cheios de crianças, adolescentes e jovens que, sem o devido lastro familiar tornam-se problemáticos e dependentes de terapias diversas para suportar o pesado fardo que lhes foi imposto invariavelmente por seus pais.
E os rebeldes? Na faculdade onde estudei, havia um jovem muito rico. Seu pai era um milionário e nada lhe faltava. Mas ele andava mal trajado e logo todos sabiam que ele era um dependente de drogas químicas pesadas. Aquela era a quarta vez que ele iniciava uma faculdade e largava logo no primeiro ano. Carros importados eram destruídos em poucos meses, confusões eram resolvidas com pagamentos e havia sempre um advogado de plantão para livrar o rapaz em qualquer situação. E elas eram muitas.
Certa vez, numa segunda feira, depois de muitos meses o Carlos – vou chamá-lo assim, sentou na ilha de edição onde eu junto com um grupo faziamos uma matéria para o telejornal da escola e ele disse que desde sexta-feira havia cheirado cocaína, fumado crack e maconha, e tomado uma série de bebidas alcoólicas. Na madrugada de sábado para domingo ele ligou para falar com seu pai, e o pai dissera que não podia atendê-lo, pois estava dormindo.
Mandara o mordomo dizer isto. Como vingança ele e seus amigos botaram fogo no carro. A policia foi chamada pelos vizinhos e todos foram parar na delegacia mais próxima, e logo estava lá um advogado para resolver a situação. Só que o carro era o predileto do pai, e estava agora destruído, que viera se juntar a uma longa lista de bens destruídos, contabilizando prejuízos vultuosos. O prejuízo moral era irreversível.
Os nossos dias são caracterizados como os dias onde os pais têm pouco tempo para os filhos, por isso há filhos que agridem seus pais de todas formas e meios, nem sempre fisicamente, mas querem punir seus pais pela falta de atenção, pela educação deficiente, pelo descaso, e alguns hão de fracassar e jogar toda a culpa em cima dos seus pais.
Um determinado pai, diretor executivo de uma multinacional estrangeira no Brasil, estava indo para uma reunião com seus subordinados, e recebeu o recado de que seu filho havia ligado e precisava falar com urgência. Como estava atrasado para a reunião, decidiu não retornar a ligação. Mais tarde descobriu que o filho havia caído da bicicleta e se ferido gravemente, precisando da ajuda de vizinhos para ir ao hospital. Chocado, o pai viu o tamanho do erro cometido – havia negligenciado auxílio ao filho, em detrimento dos seus negócios. Como este são muitos os pais que negligenciam seus filhos, tornando-os assuntos secundários, quando deveriam ser prioridade nas suas vidas.
Muitos pais não preparam seus filhos para as batalhas da vida. Certa vez eu ouvia meu amigo pastor Darckson Lira falando a respeito da educação de filhos, e um fato marcou a prédica dele. Um dos seus filhos disse-lhe que iria estudar japonês. Longe de desestimulá-lo, incentivou-o a ser não um bom estudante, mas a ser o melhor estudante, pois segundo ele de bons profissionais o mercado de trabalho está cheio, mas os melhores são muito poucos. Sábio conselho. Mas nem sempre é assim.
Má-criações nunca surgem de uma vez. Vão aparecendo aos poucos. Um dia a pequena criança joga a chupeta e a mãe corre a pegar. Depois ela vai jogar o carrinho ou a boneca, e o pai vai recolher. Contrariada a criança vai chorar, sapatear, ranger os dentes, pois a insatisfação presente na vida dela vai fazer com que ela chore sempre para conseguir o que quer. Logo ela estará fazendo escândalos, pois quando chorou foi atendida, logo para que ela vai obedecer? Transgredir é melhor. Crianças sempre irão querer mais e mais. E não estou tratando de desobediência. Disto falarei noutro artigo.
Conheci a Marisa. Ela era chocolatra – viciada em chocolate. Um dia conversando com ela, que aos 21 anos pesava mais de 120 quilos, enorme e desajeitada, me disse que devorava quilos e quilos diários de chocolate de todos os tipos e marcas. Por que? Eu perguntei a ela. Para agredir sua mãe e seu pai. Filha única, ela viu os pais se engalfinharem por anos seguidos, até que um dia ele foi embora morar com outra mulher.
Logo, ela estava uma temporada na casa do pai, outra na casa da mãe, que já havia se casado novamente. A cada ida para a casa paterna, ela via-o com uma nova namorada. Tempos depois seu pai mudara-se para outro estado e a cada seis meses ela estava num lugar diferente. Seus pais não davam a ela a devida atenção, e magoada descobriu no chocolate uma fuga, que logo se tornou um tormento. Tempos depois seus pais ao verem a gravidade do problema dela resolveram dar a atenção que ela sempre reclamara. Mas agora era tarde. Ela estava irreversivelmente doente da mente e do coração.
Mas há crianças que não partem para atitudes extremas, mas fazem de tudo para tornar a vida dos seus pais um verdadeiro suplício. Certos pais são tão reféns dos seus filhos que a última palavra invariavelmente é deles. Pais falam que sim e os filhos que não. E demonstram isto na frente de todos, humilhando e menosprezando seus pais, que merecidamente passam por tais vexames.
Tenho a certeza de que na sua casa isto não acontece. Não é mesmo?

Artigo de Jehozadak Pereira


Pais reféns – parte 1

Posted by: jehozadakpereira on: July 5, 2007

 
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Crianças que não conhecem limites tendem a tornar-se ditadores e tiranos
Você pai e mãe são reféns do seu filho? Como? Por que? De que modo você pode se tornar refém do seu filho? Será que ele vai te seqüestrar e pedir resgate para os seus parentes?
Certamente que não, ele não vai fazer isto de modo algum, mas observe nele algumas práticas e modos. Veja se o seu filho sabe os limites dele. Quem deve ensiná-lo? Certamente você é quem deve ensinar ao seu pequeno o que ele pode e o que ele não pode fazer.
Crianças que não conhecem limites tendem a tornar-se ditadores e tiranos. Se seu filho enfrenta qualquer contrariedade com gritos e com espalhafato, é birrento e agride fisicamente ou com palavras quem não faz o que ele deseja, é um desafio que não pode ser simplesmente contido. Isto é falta de limites, e, sobretudo, de educação e disciplina adequada. É o resultado da falta de imposição de limites aos filhos para que eles convivam socialmente com outras pessoas. Normalmente filhos assim, nunca foram ouvidos pelos seus pais, que além de não os escutar, deixam de ensinar-lhes normas de comportamento. Falta diálogo, e por faltar à conversa franca e objetiva, os pais têm medo de falar não para os filhos. Há pais que não escutam, e não vêem a revolta dos seus filhos, e muitas vezes a revolta, a arrogância e a tirania podem ser um grito de socorro da criança em busca de espaço e atenção na vida dos pais.
Tive uma infância razoavelmente boa. Meus pais lutaram com dificuldades a vida toda, somos seis irmãos, e jamais nos faltou o alimento ou roupas. Todos estudávamos e era uma obrigação nossa partilharmos os deveres da casa; pois minha mãe trabalhava fora alguns dias da semana, e foram incontáveis as louças lavadas por mim e meus irmãos.
Jamais estávamos desocupados, sempre havia algo a ser feito. Desobedecer a pai ou mãe, principalmente meu pai era uma atitude de altíssimo risco, e lembro-me de cada uma das surras que levei – e mereci-as todas, a exceção de uma única vez. Alguns dos meus irmãos arrumaram uma confusão entre eles e ao ouvir o barulho, meu pai entrou no quarto com um cinto de couro nas mãos e eu fui o primeiro a apanhar. Foi a única vez que me revoltei contra meu pai e o inquiri – por que o senhor me bateu, se eu não tenho nada a ver com a briga deles? A resposta do meu pai me provoca risos até hoje – você não fez nada agora, mas vai fazer, por isso você já apanhou antecipadamente.
Quando relembro com meu pai esta e outras histórias da minha infância não posso deixar de ver que embora rude comigo, foi o cuidado dele em me disciplinar que me livrou de muitas situações de perigo ao longo da vida.
Minha mãe cuidava para que não andássemos em companhias desagradáveis ou problemáticas – ela dizia uma frase que nunca esqueço – problemas, bastam os nossos. Se passássemos um pouco da hora de chegar do trabalho ou da escola, as perguntas eram muitas – onde vocês estavam? Com quem vocês estavam? O que vocês estavam fazendo?
E ela sabia quando algum de nós queria enganá-la, e ai era correção na certa. Minha mãe era mais esperta do que nós todos juntos.
Meu pai falava uma única vez, e quando não podia verbalizar somente olhava e eu podia saber que seria disciplinado independentemente de aviso, circunstância, local, presença de outras pessoas. Meu pai partilhava da filosofia que se alguém tinha de ser envergonhado este alguém era o desobediente. E ele estava certo. Entre o grito e a disciplina, meu pai optava sempre pela última, e como dava resultado.
Hoje, vejo quantos pais que preservam seus filhos diante de todos, e são constantemente envergonhados por eles. Filho desobediente e mal criado é embaraço para seu pai e mãe. Uma das piores invenções do mundo moderno e dos dias em que vivemos, é a de que crianças não podem ser disciplinadas. Colocar um filho de castigo pode ser “traumático” para ele. Mentira!
Deixar de disciplinar um filho é uma afronta à ordem bíblica. E muitos pais afrontam e desobedecem a Bíblia ao não disciplinar seus filhos devidamente. Pergunte a qualquer terapeuta que lida com crianças, adolescentes e jovens e não se surpreenda com as respostas deles – grande parte deste contingente que freqüentam os consultórios deles são de gente que carece de disciplina e de atenção materna e paterna.
Tempos atrás eu recebi um e-mail de uma mãe desesperada. A mulher pedia conselhos de como tratar a sua filha adolescente – rebelde, segundo ela – que certo dia ameaçou pular da sacada do prédio onde elas moravam. Respondi-lhe, dizendo que queria saber o histórico de vida das duas, relacionamento de mãe e filha, etc. A resposta veio rapidamente. A mulher que era separada do marido, havia se convertido há pouco mais de três anos, e queria por força que a filha também se convertesse. Como a menina se recusasse, a mulher não a deixava sair com freqüência – ou ia para a igreja ou ficava em casa.
Logo, a mulher tornou-se conselheira e orientadora de um grupo de jovens que a igreja mantinha três vezes por semana, inclusive aos sábados à tarde, e assim lá ia a mãe – deixando a filha trancada dentro de casa – orientar jovens em crise. Um belo dia chamaram-na ao telefone e ela quase desmaiou de susto – a sua filha estava sentada na varanda com as pernas balançando no vazio, pronta para pular para a morte. Correria, gritos e desespero, e finalmente depois de algumas horas a menina voltou para dentro do apartamento, e ela lendo um dos artigos que eu havia escrito pedia orientação de como proceder.
De cara aconselhei-a que deixasse o grupo de jovens e se dedicasse somente a sua filha, desse atenção diuturnamente, que se tornasse amiga da sua filha e que não a forçasse a se converter, que orasse e mostrasse o quanto sua filha era importante para ela. Meses depois recebi um outro e-mail, dizendo que a menina havia se batizado, e que ambas trabalhavam juntas aconselhando outros jovens a encontrar a paz e a amizade com seus familiares.
Pensem que uma multidão de crianças, jovens e adolescentes como a menina, “gritam” pedindo por atenção e carinho, para ser ouvidos e atendidos nas suas necessidades emocionais básicas. Mas há, aquelas que reagem com desobediência e rebeldia à falta de atenção dos seus pais. Por outro lado, há pais que são relapsos e omissos, que não dão atenção devida aos seus filhos e por isso eles fazem gato e sapato dos seus pais.
Certa vez presenciei um pai com uma rispidez chocante humilhar seus filhos adolescentes diante de todos. Pensei que fosse uma atitude isolada, mas logo vi que cenas como aquela eram corriqueiras na vida daquela família. Passei então a “monitorar” os meninos e vi que eles por seu lado se vingavam do pai e da mãe com atitudes de pura indisciplina e rebeldia.
Um bebê não fala, mas sente dores, e uma das formas de verbalizar isto invariavelmente é chorar. E como choram nossos bebês. Ao nascer a primeira reação de muitos é chorar agudamente, e o primeiro choro pode ser um protesto ao desconforto a que a criança está sendo submetida. Imaginem, se qualquer um de nós ficássemos dois meses agachados, num espaço minúsculo, sem luz, sem contato nenhum com o mundo exterior? E após este período fossemos jogados de supetão na claridade e pudéssemos finalmente esticar as pernas e os braços. Certamente gritaríamos de dor, pois os nossos órgãos estariam acostumados a uma determinada posição, assim como nossos olhos à escuridão. Assim, são os bebês quando nascem.
No meu terceiro ano na faculdade, fui a Bienal de São Paulo, com a incumbência de analisar diversas obras de arte para fazer uma matéria de uma disciplina específica. Visitei durante aquele dia diversas obras, e nenhuma delas causou tanta angústia e sensação de fobia, quanto – A Casa é o Corpo – uma instalação onde é possível entrar, e que se tem à sensação de estar dentro de um útero, um trabalho de Lygia Clark. Eu não via a hora de sair dali.