quinta-feira, 17 de março de 2011

Teologia Relacional, a inútil discussão acerca de Deus



 Piedosas são sempre as tentativas humanas de pensar Deus sem vivê-Lo.



Sim! Quando a alma não quer a revelação e suas implicações de uma existência em fé e sem justiça-própria, entregando o ser sem para-quedas a Deus, o que surge é uma “teologia”.



Cada vez mais me perguntam o que acho da Teologia Relacional ou do Processo, as quais só não são a mesma coisa por uma diferenciação escolástica.



Ora, sem mencionar tais nomes em muito do que escrevo, entretanto deixo claro o que penso em todos os conteúdos deste site, os quais (os conteúdos) batem de frente-frente contra tais especulações.



Mas para aqueles que só entendem as coisas se elas tiverem nome e endereço, digo aqui o seguinte:





1. Que é loucura humana buscar entender como Deus é para além da revelação que Jesus fez e faz do Pai. Deus é Deus. E cabe ao homem amá-Lo conforme o que Dele se pode conhecer ou nos é revelado.



2. Que a especulação sobre a relação de Deus com a História Humana que não se fundamente na revelação que Jesus trás de Deus é tola, infantil, presunçosa e inútil.



3. Que tais especulações apenas desviam a atenção para algo que não se pode conhecer, em detrimento do que de Deus se pode conhecer.



4. Que Deus não é conhecido pelo intelecto, mas pela sensibilidade que tem no espírito humano seu chão e sua base. Assim, Deus se revela sem se explicar.



 5. Que tanto o Calvinismo como também a Teologia Relacional são manifestações humanas equivocadas, ainda que sinceras, pois a Escritura é propositalmente contraditória e paradoxal aos sentidos humanos, posto que o que ela revela é divino, e não está ao alcance da especulação que busca sistematizar Deus.



6. Que se tem que viver com a humildade de quem ama Aquele que não pode ser compreendido, ao mesmo tempo em que se ponha em pratica tudo o que Dele se pode compreender; e que diz respeito ao homem e sua relação com Deus pela fé, e com a vida pelo amor.



7. Que a Teologia Relacional que as Escrituras ensinam nada tem a ver com o modo de Deus ser em relação ao homem para além do revelado, como quem busca entender os caminhos de Deus que são mais altos que os nossos caminhos. A Teologia Relacional que as Escrituras ensinam é justamente aquela que é evitada pelos teólogos na busca de entenderem o que não nos é possível — que é a relação do homem com Deus pela fé.



8. Que tal discussão não passa de sexo dos anjos, posto que dissimula o que é revelado; ou seja: que  os homens se relacionem uns com os outros, com Deus, com a vida. Ora, a dissimulação é pensarem que estão muito ocupados pensando Deus.



9. Que Jesus acharia (pela manifestação que o Evangelho nos trás Dele) tudo isso uma grande tolice do tipo da dos escribas dos saduceus — que não criam na revelação em sua simplicidade, e, assim, criaram uma teologia na qual as ações dos homens e as de Deus se tornavam a mesma coisa.



10. Que a única Teologia Relacional que pode ser intelectualmente levada a sério é aquela que diz respeito ao homem com o homem; e ao homem com Deus, conforme João nos ensina em sua epístola de modo tão claro e obvio.



Assim, sem citar nomes, autores ou supostos pensadores, digo:



Não levo à sério quem pensa assim, pois, quem pensa, assim não pensa, posto que pelo seu próprio pensar (se pensa de fato), vê que não é possível “pensar Deus”, pois Deus está acima do próprio pensamento.



Ora, se assim não fosse dir-se-ia que o homem, o justo, seria justificado pelo seu pensar!



O mundo está estrebuchando. Mas há pessoas dedicadas a fazer fimose de Deus, ao invés de simplesmente viverem o Evangelho conforme a simplicidade de Jesus.



Toda tentativa de pensar Deus para entendê-Lo, não apenas é tola, mas, sobretudo, é diabólica, pois, tira a energia humana do foco simples do Evangelho, e leva a pessoa para um ambiente virtual de uma piedade de sarcófago, posto que nada mais faz do que a exumação do único “Deus” passível de ser objeto de tal coisa — o “Deus da teologia”.



Digo isso não porque não pense. Sei que se começasse a especular sobre “Deus” eu seria muito bom nisto, pois, imaginação não me falta, muito menos capacidade de pensar com todas as implicações filosóficas de tal “viagem”.



Minha recusa quanto a tais coisas, portanto, não me acomete como sentimento de limitação no pensar até onde pensar seja possível, mas exclusivamente em razão de duas coisas: do temor de Deus conforme a consciência que tenho acerca Dele, assim como em razão da certeza total de que tais exercícios apenas exercitam a vaidade, mas não têm poder algum quanto a levar a vida à verdadeira experiência de Deus como conhecimento profundo e como piedade aplicável a esta existência.



O site, todavia, contém textos e textos que explicam em detalhes a vaidade de tais especulações!



Chega de Disneylândia teológica.



O buraco é infinitamente acima de nossas cabeças!



Assim, para os devotos da especulação que só interessa ao desinteresse pelo que de fato importa e interessa — eis a Palavra do Evangelho:



Disse-lhe Filipe:



Senhor mostra-nos o Pai, isso nos basta.



Disse-lhe Jesus:



Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido, Filipe? Quem me vê a mim vê o Pai; e como dizes tu: Mostra-nos o Pai? Não crês que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, faz as suas obrasCrede-me que estou no Pai, e que o Pai em mim; crede-me ao menos por causa das mesmas obras. Em verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque eu vou para meu Pai. E tudo quanto pedirdes em meu nome eu o farei, para que o Pai seja glorificado no Filho. Se pedirdes alguma coisa em meu nome, eu o farei. Se me amais, guardai os meus mandamentos.



Assim, a Teologia Relacional de Jesus não diz como Deus é, mas Quem Deus é. Desse modo apenas diz para se ver o Pai no Filho revelado e encarnado. Diz que tudo tem a ver com crer ou não crer. Diz que o que está disponível aos nossos sentidos são obras divinas a serem vistas e discernidas pela fé na revelação. Diz que tal relacionalidade é com Deus, e que ela se manifesta mediante a obediência e o amor. E conclui afirmando que a especulação sobre o Pai é tolice, pois o que do Pai se pode conhecer está revelado em Jesus.



Desse modo a questão de Jesus ecoa outra vez:



Estou há tanto tempo convosco, e não me tendes conhecido?  





Nele, que jamais se ocuparia com tais coisas, como de fato, tendo todas as chances, não o fez,





Caio



Ps: Se pelo menos os teólogos entendessem um pouquinho acerca de física quântica, saberiam quão tola tal discussão é em sua busca de discutir a atemporal soberania de Deus e a temporal e relativa liberdade humana. Sem um mínimo de consciência sobre o significado físico do tempo, não se tem nem como entender que não se pode entender a eternidade. Sim! Porque já que não crêem, poderiam pelo menos ir além das categorias medievais de nossas teologias a fim de pensarem de modo a fazer sentido com o que pensar significa. 





Escrito em 2007

Camboriú - Santa Catarina



   

Deus odeia pecadores, e não somente o pecado!

terça-feira, 15 de março de 2011

Deus de perguntas

Por Dawn Zemke
Algumas vezes o inexplicável lado de Deus me deixa louca, 
porque freqüentemente não entendo o motivo dele permitir 
algumas coisas.
Algumas vezes exponho os mistérios de Deus. Que ele sempre existiu e sempre vai existir. Que ele é Pai, Filho, Espírito Santo, três em um. Que ele criou nosso incrível planeta – oceanos, montanhas, desertos e uma inacreditável variedade de vida selvagem, para não mencionar as pessoas. Como embrulho meu cérebro em volta de tudo isso? Sinto uma indefinível e enigmática parte da natureza de Deus me mandando um calafrio abaixo da espinha e me lembrando como verdadeiramente ele é grande - e como abençoada sou porque ele não somente toma conta de mim, mas me conhece intimamente.

Algumas vezes, entretanto, esse mistificante e inexplicável lado de Deus me deixa louca, porque freqüentemente não entendo o motivo dele permitir algumas coisas. Por que maravilhosos e amorosos casais permanecem sem filhos e outros concebem e jogam fora bebês sem uma boa razão? Por que um homem que nunca tocou um cigarro morre de câncer de pulmão enquanto um fumante de dois maços por dia vive até uma idade mais avançada? E por que uma mulher bondosa e fiel como minha mãe deve esperar a morte do marido e a da filha pequena enquanto outras pessoas permanecem intocáveis por tragédias durante toda a vida?

Eu sei, eu sei - nós estamos vivendo em um mundo caído, experimentando a conseqüência do seu pecado. Eu reconheço que Deus está sempre no controle, mesmo quando sinto como se ele tivesse perdido a equação. E acredito em sua promessa que o seu plano é “prosperar e não danificar, planos de me dar esperança e um futuro” (Jeremias 29:11).

Isso não significa que eu tenha que gostar disso. E definitivamente não significa que eu não experimento momentos de dúvida, quando eu grito, “Por que Deus? Como você pode? O que você estava pensando?”

Eu costumo me sentir culpada por alguns pensamentos. Depois de tudo, Deus é... Deus. Seus caminhos são além da minha compreensão, certo? É meu trabalho como sua filha ter uma fé inabalável Nele. Acreditar sem questionar.

Ou talvez não.

No capítulo 11 do seu evangelho, João conta a história de Jesus ressuscitando seu amigo Lázaro. Por anos eu me fixei no milagre - Jesus trouxe o homem da morte - e nunca noticiei o drama por trás das cenas.

João nos conta que Jesus amou Lázaro e suas duas irmãs, Maria e Marta. Quando recebeu a notícia que Lázaro estava doente, ele não correu para lá. Na verdade, ele esperou dois dias inteiros antes de pegar a estrada. Quando chegou à cidade de Lázaro, o homem já estava morto há quatro dias.

Agora aqui é onde a história fica interessante. Quando a notícia que Jesus estava perto chegou, Marta foi ao seu encontro. Mas não Maria. Essa mulher que amava muito Jesus, que comprou um perfume caro para pôr em seus pés e secou-os com seus cabelos, ficou em casa. Jesus teve que perguntar por Maria. E mesmo que ela tenha respondido imediatamente ao seu chamado, suas primeiras palavras me falam sobre o estado da sua mente : “Senhor, se você estivesse aqui, meu irmão não teria morrido” (João 11:32). Em outras palavras “Como você pode levar tanto tempo para chegar aqui, Jesus? O quê você estava pensando?”

Eu então me identifico com Maria, porque estaria fazendo a mesma pergunta. Como deve ter sido terrível para ela, assistindo seu irmão ficar cada vez mais doente, e finalmente morrer, e Jesus nunca vir. Falei sobre se sentir desapontada.

O que eu realmente amo nessa história, entretanto, é a reação de Jesus. Ele é profundamente movido pelo desgosto de Maria. E ele ressuscita Lázaro. O que ele não faz é desprezá-la por seus questionamentos.

E isso traz conforto para meu coração duvidoso e questionador. Como Jesus entendeu a questão de Maria, eu acredito que ele entende a minha. Depois de tudo, ele me criou e me conhece - como diz o Salmo 139 - ele “percebe os meus pensamentos de longe”.

Eu tenho acreditado cada vez mais que enquanto Deus quer minha obediência, ele não requer que eu dê isso sem pensar. Como algum bom pai, ele ouve pacientemente minha questões e faz o melhor para respondê-las. E como qualquer criança, eu não vou ter sempre habilidade para entender essas respostas.

Mas, olhando para a Bíblia, estou em boa companhia. Moisés deu a Deus um período de sua vida antes de concordar em voltar ao Egito. Jonas não somente questionou o plano de Deus, como fugiu dele. E até Jesus, perfeitamente submisso à vontade do Pai, checou duas vezes para estar certo que não havia outra maneira de cumprir sua tarefa.

Algum dia eu vou trocar esse corpo finito por um infinito, e com isso eu vou ganhar entendimento completo do perfeito plano de Deus. Mas até esse dia vir, é bom saber que a paciência de Deus não irá acabar. Que ele não somente entende e aceita todas as minhas questões, ele me ama apesar delas.


Copyright © 2011 por Christianity Today International

(Traduzido por Sulamita Ricardo)

Acidentes, Não Castigos (Sermão inédito de C.H.Spurgeon)

No. 408
Um sermão pregado Domingo, oito de setembro de 1861
Por Charles Haddon Spurgeon
No Tabernáculo Metropolitano, Newington, Londres.


BAIXE ESSE SERMÃO EM PDF NO SRIBD
LEIA ONLINE EM BOOKEES

“E, Naquele mesmo tempo, estavam presentes ali alguns que lhe falavam dos galileus, cujo sangue Pilatos misturara com os seus sacrifícios. E, respondendo Jesus, disse-lhes: Cuidais vós que esses galileus foram mais pecadores do que todos os galileus, por terem padecido tais coisas? Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis. E aqueles dezoito, sobre os quais caiu a torre de Siloé e os matou, cuidais que foram mais culpados do que todos quantos homens habitam em Jerusalém? Não, vos digo; antes, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.” Lucas 13:1-5

O ano de 1861 será notório entre seus companheiros por ser um ano marcado por calamidades. Justo na época quando o homem sai a receber o fruto de seus labores, quando a colheita da terra está madura, e os celeiros começam a encher-se, cheios de trigo novo, a Morte também, essa poderosa segadora, saiu para cortar sua própria colheita – feixes completos foram recolhidos em seu celeiro: a tumba. Terríveis foram os lamentos que formam o hino de colheita da morte.

Ao ler os jornais essas ultimas semanas, ainda as pessoas mais impassíveis experimentaram sentimentos muito dolorosos. Não só ocorreram calamidades tão alarmantes que só de lembrar gelam o sangue, mas também as colunas dos periódicos foram dedicadas a certas calamidades de um menor nível de horror, mas que, somadas todas, são suficientes para encher a mente de terror, pela tremenda quantidade de mortes inesperadas que recentemente corresponderam aos filhos dos homens.

Não somente temos tido acidentes a cada dia da semana, mas sim até dois ou três – não fomos simplesmente aturdidos pelo alarmante ruído de um terrível estrondo, mas antes com outro, outro, outro e outro, que seguiram suas pisadas, como os amigos de Jó, até que tenhamos tido necessidade da paciência e da resignação de Jó para escutar a terrível narrativa dessas calamidades. Agora, homens e irmãos, coisas como essas ocorreram sempre em todas as épocas do mundo. Não pensem que isso é algo novo – não considerem, como alguns fazem, que isso é o produto de uma civilização excessiva, ou o resultado dessa descoberta moderna tão maravilhosa como é o vapor. Se jamais se tivesse conhecido a máquina a vapor, e se nunca se tivesse construído uma ferroviária, de todas as formas teriam ocorrido mortes inesperadas e acidentes terríveis.

Ao revisar os velhos arquivos nos quais nossos antepassados registraram os acidentes e as calamidades, encontramos que a antiga diligência ofereceu à morte uma presa tão custosa como o trem que roda ferozmente o faz; tinham então tantas portas para o Hades como as que existem hoje – caminhos tão empinados e íngremes que conduziam para a morte, que eram transitados por uma multidão tão vasta como em nossa época; Por acaso duvidam disso?

Peço-lhes que nos dirijamos ao capítulo treze de Lucas. Lembrem-se desses dezoito sobre os quais a torre de Siloé caiu. Que tal se nenhuma colisão os tivesse esmagado?[1] Ou que se não tivessem sido destruídos pelo ingovernável cavalo de ferro que os arrastou a água desde um aterro?[2] No entanto, alguma torre mal construída, ou alguma parede golpeada pela tempestade poderia ter caído sobre dezoito de uma vez, e teriam perecido.

Ou pior que isso, um governante déspota, levando as vidas dos homens penduradas em seu cinto como se fossem as chaves de seu palácio, poderia ter caído subitamente sobre os que estavam adorando no próprio templo, e poderia ter misturado o sangue deles com o sangue dos bezerros que nesse momento estavam sendo sacrificados ao Deus do céu. Não pensem, então, que essa é uma época na que Deus está tratando mais duramente com nós do que antes. Não pensem que a providência de Deus se tem voltado mais dura do que antes: sempre ocorreram mortes inesperadas, e sempre as haverá – sempre tem ocorrido estações nas que os lobos da morte tem caçado em manadas famintas, e provavelmente, até o fim dessa dispensação, o último inimigo terá seu festival periódico e satisfará aos vermes com carne humana.

Portanto, não estejam abatidos pelas mortes inesperadas, nem tampouco estejam perturbados com essas calamidades. Continuem com suas atividades normais, e se seus chamados os levam a cruzar o campo da própria morte, o façam, e façam corajosamente. Deus não soltou as rédeas do mundo, não tirou Sua mão do timão do grande barco, todavia:

“Ele em todas as partes possui império,
e todas as coisas servem a seu propósito;
Cada ato seu é pura benção,
Seu caminho é luz sem mancha.”

Só aprendam a confiar Nele, e não terão nenhum temor à morte inesperada; “A sua alma pousará no bem, e a sua semente herdará a terra.” (Salmo 25:13)

O tema particular dessa manhã, no entanto, é esse: o uso que devemos encontrar para esses terríveis textos que Deus está escrevendo com letras maiúsculas na história do mundo. Deus falou uma vez, sim, duas vezes – que não se diga que o homem não prestou atenção. Temos visto um vislumbre do poder de Deus, contemplamos alguma coisa da rapidez com a que Ele pode destruir nossos concidadãos. “Presta atenção ao castigo e a quem o estabelece;” e ao prestar atenção, façamos duas coisas.

Primeiro, não sejamos tão insensatos para tirar a conclusão a que chegam as pessoas supersticiosas e ignorantes; essa conclusão que está sugerida no texto, quer dizer, que os que são destruídos por meio de acidentes, são pecadores que estão acima de todos os pecadores que habitam o lugar. E, em segundo lugar, cheguemos à conclusão apropriada e correta; façamos um uso prático de todos esses eventos para nossa própria melhoria pessoal: escutemos a voz do Salvador que diz: “se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.”

I. Primeiro, então, TENHAMOS MUITO CUIDADO DE NÃO CONCLUIR APRESSADAMENTE E IRREFLETIDAMENTE SOBRE ESSES TERRIVEIS ACIDENTES: QUE OS QUE OS SOFREM, OS SOFREM POR CULPA DE SEUS PECADOS.

É dito de maneira mais absurda que os que viajam no primeiro dia da semana, e sofrem um acidente, devem considerar esse acidente como um juízo de Deus sobre eles, devido a estarem violando o dia de adoração cristão. Tem se dito, ainda por parte de ministros piedosos, que essa ultima colisão deplorável dos trens deve-se considerar uma notável visitação e sumariamente maravilhosa da ira de Deus contra esses infelizes que por casualidade encontravam-se no túnel Clayton.

Porem, eu apresento meu protesto mais enérgico contra uma conclusão assim, não só em meu nome, mas também em nome Daquele que é o Senhor do cristão e Mestre do cristão. Eu pergunto acerca dessas pessoas que foram esmagadas nesse túnel, pensam vocês que eles era maiores pecadores do que todos os pecadores? “Não, se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.”, ou os que morreram na segunda feira passada, pesam vocês que eles eram maiores pecadores que todos os pecadores que estavam em Londres?[3] “Se não vos arrependerdes, todos de igual modo perecereis.”

Agora, fixem-se bem, eu não negaria que existiram ocasiões em que houve juízos de Deus sobre pessoas particulares devido a seu pecado; algumas vezes, e eu penso que muito raramente, tais coisas ocorreram. Alguns de nós ouvimos, em nossa própria experiência, que certos homens blasfemam a Deus e o desafiaram a que os destruísse, e morreram repentinamente – e em tais casos, o castigo seguiu tão rapidamente á blasfêmia que era impossível não ver a mão de Deus nisso. O homem havia perdido perversamente o juízo de Deus, e sua oração foi ouvida, e veio o juízo.

E alem de toda dúvida, existe o que se pode descobrir como juízos naturais. Vocês vêm a um homem vestindo farrapos, pobre, sem casa – foi um libertino, um bêbado, perdeu seu caráter, e não é senão o justo juízo de Deus sobre esse homem que esteja morrendo de fome, e que seja um proscrito dos homens. Vocês podem ver nos hospitais a repugnantes exemplares de homens e mulheres que estão terrivelmente enfermos – Deus não queira que em tais casos, nós neguemos que existe um juízo de Deus sobre essas concupiscências ímpias e licenciosas.

E o mesmo pode se disser de muitos casos onde existe um vínculo tão claro entre o pecado e o castigo que até os homens mais cegos podem discernir que Deus converteu a Miséria na filha do Pecado. Porem, em casos de acidente, tal como esse a que me refiro, e em casos de morte repentina e instantânea, repito, eu apresento meu mais sincero protesto contra essa insensata e ridícula ideia que os que perecem assim, são mais pecadores que todos os pecadores que sobrevivem sem sofrer dano algum.

Simplesmente permitam-me raciocinar esse assunto com o povo cristão – pois há alguns cristãos sem maior iluminação que se sentirão horrorizados pelo que eu disse. E, os que tendem a ser perversos podem sonhar inclusive que eu estou fazendo uma apologia para o quebrantamento do dia de adoração. Porem, eu não faço tal coisa. Eu não diminuo a gravidade do pecado; eu só testifico e declaro que os acidentes não devem ser vistos como castigos, pois o castigo não pertence a esse mundo, mas sim ao futuro. A todos aqueles que se apressam em considerar cada calamidade como um juízo, eu quero lhes falar na esperança sincera de corrigir-lhes.

Então, permitam-me começar perguntando, meus amados irmãos, por acaso não enxergam que o que dizem não é certo? E essa é a melhor das razões do porque não devem dizê-lo. Suas próprias experiências e observações não lhes ensinam que um evento ocorre tanto ao justo como ao malvado? É certo que o homem malvado às vezes cai morto na rua – mas o ministro também não caiu também morto no púlpito, por acaso? É certo que um iate de prazer, no qual os homens buscavam sua própria felicidade em um dia de domingo, afundou precipitadamente – mas por acaso não é igualmente certo que um barco que levava somente homens piedosos, cujo destino era um giro para pregar o Evangelho, não afundou também?

A providência de Deus não tem respeito as pessoas: e uma tormenta pode abater-se sobre o barco missionário “John Williams” [4], da mesma forma que pode abater-se sobre outro iate repleto de pecadores desenfreados. Que! Acaso não percebem que a providência de Deus foi de fato, e seus tratos externos, mais dura com os bons do que com os maus? Paulo não disse ao contemplar as misérias dos justos em seus dias: “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens.” (1 Coríntios 15:19)

O caminho da justiça frequentemente conduziu aos homens ao cavalo selvagem do tormento, da prisão, do patíbulo e à fogueira – enquanto que o caminho do pecado, muitas vezes os levou ao império, ao domingo e à alta estima de seus companheiros. Não é certo que nesse mundo Deus castigue aos homens por seu pecado, e os premie por suas boas obras. Não disse Davi: “Vi o ímpio com grande poder espalhar-se como a árvore verde na terra natal? (Salmos 37:35)” E, isso deixava o Salmista perplexo durante um tempo, até que foi ao santuário de Deus, e enfim então entendeu o fim deles?

Ainda que sua fé lhe assegure que o resultado final da providência trabalhará unicamente o bem para o povo de Deus, no entanto, sua vida, ainda que seja somente uma breve parte do drama divino da história, deve ter-lhe ensinado que a providência não discrimina externamente entre o justo e o ímpio – que o justo perece inesperadamente igual que o ímpio – que a peste não conhece diferenças entre o pecador e o santo – e que a mesma espada da guerra é impiedosa com os filhos de Deus da mesma maneira que é com os filhos de Belial.

Quando Deus envia o flagelo, esse mata inesperadamente ao inocente da mesma forma que ao perverso e ao insolente. Agora, meus irmãos, se a ideia de vocês de uma providência que castiga e que premia não é certa, por que falam como se fosse? E, por que, se não é correta como regra geral, vocês supõem que seja verdadeira nessa instância particular? Demovam essa ideia de suas cabeças, pois o Evangelho de Deus jamais requer que vocês creriam em algo que não é certo.

Porem, em segundo lugar, existe outra razão. A ideia de que, sempre que ocorre um acidente, devemos considerá-lo como um juízo de Deus, faria que a providência fosse, em vez de um grande abismo, uma poça d’água bem rasa. Pois, qualquer criança pode entender a providência de Deus, se é certo que quando há um acidente ferroviário, é porque as pessoas viajavam em um domingo. Eu posso escolher qualquer menininho da classe mais elementar da escola dominical, e ele me dirá: “sim, eu vejo isso.” Mas então, se a providência é uma coisa assim, se é uma providência que pode ser compreendida, evidentemente não é a ideia de providência da Escritura, pois na Escritura nos é sempre ensinado que a providência de Deus é “um grande abismo”, e mesmo Ezequiel, que possuía a asa do querubim e podia voar muito alto, quando viu as rodas que eram o grande quadro da providência de Deus, só podia dizer que os aros das rodas eram tão altos que eram espantosos, e cheios de olhos, de tal forma que lhes era gritado, “roda!

Repito isso para que fique muito claro: se em todos os casos uma calamidade fosse o resultado de algum pecado, então a providência seria algo tão simples como que dois mais dois são quatro – seria uma das primeiras lições que uma criancinha poderia aprender. Porem, as Escrituras nos ensinam que a providência é um grande abismo no qual o intelecto humano pode nadar e mergulhar, mas não pode encontrar nem o fundo nem a orla; e se você e eu pretendemos poder encontrar as razões da providência, e torcer as dispensações de Deus com nossos dedos, só demonstramos nossa insensatez, porem não estamos evidenciando que temos começado a entender os caminhos de Deus.

Pois, olhem, senhores – suponham por um momento que está acontecendo uma grandiosa representação de uma obra teatral, e que vocês se intrometem na obra e vêm a um ator no cenário por um instante, e dizem: “Sim, eu entendo a obra”, que tontos seriam! Acaso não sabem que as grandes transações da providência começaram aproximadamente uns seis mil anos? E vocês vieram a esse mundo faz uns trinta, quarenta anos, e tem visto um ator em cena, e vocês dizem que já entendem a obra. Oras! Não a entendem – apenas começaram a conhecer. Unicamente Ele conhece o fim desde o principio, somente Ele entende quais são os grandes resultados, e qual é a grandiosa razão pela que o mundo foi feito, e pela qual Ele permite que ocorra tanto o bem como o mal. Não pensem que vocês conhecem os caminhos de Deus; equivale a degradar a providência, e baixar Deus ao nível dos homens, quando pretendem poder entender essas calamidades e descobrir os desígnios secretos da sabedoria.

Porem, continuando, não percebem que uma ideia assim alentaria ao farisaísmo? Essas pessoas que morreram esmagadas, ou queimadas até as cinzas, ou destruídas debaixo das rodas dos vagões do trem, eram piores pecadores que nós. Muito bem, então nós devemos ser umas excelentes pessoas – que excelentes exemplos de virtude! Não fazemos as coisas que eles fazem, e, portanto Deus nos facilita todas as coisas. Na medida em que viajamos, alguns de nós a cada dia da semana, e jamais fomos despedaçados, sobre essa suposição, podemos nos catalogar como os favoritos da Deidade.

Então, não enxergam irmãos, que nossa segurança seria um argumento para nos fazer cristãos? Que tenhamos viajado em um trem com segurança seria um argumento de que somos regenerados, porem eu jamais li nas Escrituras, “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, por que viajamos de Londres a Brigton sem nenhum problema duas vezes ao dia.” Jamais encontrei nenhum versículo que se pareça com isso – e, no entanto, se fosse certo que os piores pecadores sofrem os acidentes, se derivaria como um contraponto natural a essa proposição que os que não sofrem acidentes devem ser pessoas muito boas, e que noções farisaicas geramos e nutrimos dessa maneira.

Porem, eu não posso tolerar essa insensatez nem por um instante. Quando contemplo por um momento os pobres corpos mutilados dos que foram sacrificados tão inesperadamente, meus olhos se enchem de lágrimas, mas meu coração não se vangloria, nem meus lábios acusam – longe de mim tal expressão cheia de orgulho: “Deus, lhe dou graças porque não sou como os outros homens.” Não, não, não, esse não é o espírito de Cristo, nem o espírito do cristianismo. Ainda que possamos agradecer a Deus porque somos preservados, no entanto, podemos dizer: “As misericórdias do SENHOR são a causa de não sermos consumidos” (Lamentações 3:22), e devemos atribuir tal fato a Sua graça e unicamente a Sua graça. Porem, não podemos crer que havia algo melhor em nós, porque fomos preservados vivos estando a morte tão perto. É somente porque Ele teve misericórdia, sendo muito paciente para conosco, não querendo que pereçamos, mas sim que nos arrependamos, que nos preservou dessa maneira para que não desçamos á tumba, e nos manteve a vida preservando-nos da morte.

Logo, permitam-me comentar que a suposição contra a qual estou contendendo é muito cruel e dura. Pois se esse fosse o caso, que todas as pessoas que assim se encontram com a morte de uma maneira extraordinária e terrível são maiores pecadoras que as demais, isso não seria um duro golpe para os afligidos sobreviventes? E não é pouco generoso de nossa parte consentir nessa ideia, a menos que sejamos forçados a aceitá-la como uma terrível verdade, por razões que não podem ser respondidas?

Agora, eu os desafio a sussurrar ao ouvido da viúva. Vão a sua casa e digam-lhe: “seu esposo era pior pecador que o resto dos homens, por isso morreu.” Não possuem a suficiente brutalidade para isso. Um pequeno bebê inconsciente, que jamais havia pecado, ainda que, sem dúvida, um herdeiro da queda de Adão, é encontrado esmagado em meio dos escombros do acidente. Agora, pensem por um momento, qual seria a infame consequência da suposição que os que pereceram era piores que os outros. Teriam que supor que essa inconsciente criança era pior pecadora que muitos que habitam as guaridas da infâmia e cujas vidas são ainda respeitadas. Não percebem que a coisa é radicalmente falsa? E talvez eu pudesse mostra-lhes melhor a injustiça disso, lembrando-lhes que um dia poderia suceder com vocês.

Suponham que lhes toque encontrarem-se com uma inesperada morte desse tipo, estão anuentes a que se lhes corresponda a condenação sobre essa base? Um incidente assim pode ocorrer na casa de Deus. Permitam-me recordar o que ocorreu uma vez em que estávamos congregados – posso afirmar de coração puro que não nos reunimos com nenhum outro objetivo se não o de servir a Deus, e esse ministro não tinha nenhuma meta ao ir a esse lugar, exceto o de congregar a muitos que de outra maneira não teriam tido a oportunidade de escutar sua voz. E, no entanto houve funerais como resultado desse esforço santo (pois ainda declaramos que foi um esforço santo, e a benção de Deus o demonstrou). Houve mortes e mortes entre o povo de Deus – estive a ponto de dizer que estou contente que foi entre o povo de Deus mais que em noutros povos. Um tremendo terror apoderou-se da congregação, e o povo fugiu, e não enxergam que se os acidentes devem ser considerados como juízos, então é uma sã conclusão que nós estávamos pecando ao estar lá. Essa é uma insinuação que nossas consciências categoricamente repudiam.[5]

No entanto, se essa lógica fosse verdadeira, é tão certa contra nós como o é contra outros, e na medida em que vocês repeliriam com indignação a acusação que alguns foram feridos ou golpeados devido ao pecado, estando ali no Music Hall para adorar a Deus, o que rejeitam para vocês o rejeitem para outros, e não querem ser parte da acusação que é apresentada em contra os que foram destruídos durante as ultimas duas semanas, que pereceram por causa de qualquer grande pecado.

Aqui antecipo o clamor de pessoas prudentes e zelosas que temem pela arca de Deus, e a querem tocar com a mão e Uzá. “Bem,” dirá algum, “porem, nós não devemos falar assim, pois é uma superstição muito útil, pois haveria muitas pessoas que já não viajariam aos domingos devido ao acidente, e, portanto, devemos dizer-lhes, que os que pereceram, pereceram devido a que viajaram no domingo.”

Irmãos, eu não diria uma mentira para salvar uma alma, e isso seria dizer mentiras, pois não é verdade. Eu faria qualquer coisa para interromper o trabalho aos domingos e o pecado, mas não forjaria uma falsidade, ainda mesmo para conseguir isso. Essas pessoas poderiam ter falecido na segunda-feira igual como no domingo. Deus não dá uma imunidade especial a algum dia da semana, e os acidentes podem ocorrer em qualquer momento, e é somente uma fraude piedosa quando buscamos jogar assim com a superstição dos homens por causa de Cristo.

O sacerdote da Igreja Católica pode consistentemente usar um argumento assim, porem, um cristão honesto que crê que a religião de Cristo pode cuidar-se a si mesma sem necessidade de falar falsidades, desdenha fazer isso. Esses homens não pereceram porque viajaram num domingo. Que sirva de testemunha o fato de que outros pereceram em uma segunda-feira quando andavam, em missão de misericórdia.

Eu não sei por que razão ou por que motivo Deus enviou o acidente. Deus não queira que ofereçamos nossas próprias razões quando Ele não deu Sua razão, mas não nos é permitido converter a superstição dos homens em um instrumento para avançar a glória de Deus. Vocês sabem que entre os protestantes existem muitos fanatismos papais. Conheço pessoas que aprovam o batismo infantil argumentando: “Bem, não faz dano nenhum, e existem muitas boas intenções nele, e pode fazer muito bem, e ainda a confirmação pode resultar de benção para algumas pessoas, portanto não falemos contra isso.

A mim não corresponde se esse tema faz dano ou não, tudo o que me importa é se é correto, se é Escriturístico, se é verdadeiro, e se a verdade é prejudicada, que é uma suposição que não podemos aceitar de nenhuma maneira, esse prejuízo não estará em nossa porta. Não temos outro dever que dizer a verdade, ainda que os céus caiam. Repito, qualquer avanço do Evangelho que se deva à superstição dos homens, é um avanço falso, e logo se voltará contra as pessoas que usam dessa arma não consagrada.

Nos possuímos uma religião que apela ao juízo do homem e ao sentido comum, e quando não podemos avançar com isso, eu não aceito que devamos prosseguir utilizando outros métodos - e irmãos, se existe alguma pessoa que queira endurecer seu coração e dizer: “pois bem, eu estou tão certo em um dia como em qualquer outro dia,” o que é muito certo, eu devo responder-lhe: “o pecado de que faça tal uso como o que faz de uma verdade deve jazer a sua porta, não na minha – porem, se eu pudesse evitar que viole o dia do descanso cristão, colocando-lhe frente a uma supersticiosa hipótese, não o faria, pois parece-me que ainda que o consiga manter afastado desse pecado por um pouco de tempo, muito pronto se converteria demasiado inteligente parta ser enganado por mim, e logo me chegaria a considerar como um sacerdote que julgou seus temores em vez de apelar a seu juízo.”

Oh, já é tempo que saibamos que nosso cristianismo não é uma coisa débil e temerosa, que apela aos pequenos temores supersticiosos de mentes ignorantes. É a algo valente, que ama a luz, e que não precisa de fraudes santas para sua defesa. Sim, crítico! Foca sua lanterna até nós, e que brilhe em nossos próprios olhos; nós não temos medo, a verdade é poderosa e pode prevalecer, e se não pode prevalecer à luz do dia, e não temos nenhum desejo de que o sol se ponha para dar a verdade uma oportunidade.

Eu creio que brotou muita infidelidade do desejo muito natural de alguns cristãos de aproveitar-se de erros comuns. “Oh”, disseram, “esse erro popular é muito bom, mantém o povo na posição correta – vamos o perpetuar esse erro, pois evidentemente faz muito bem.” E logo, quando o erro foi descoberto, os infiéis disseram: “Oh, agora vejam que esses cristãos foram descobertos em seus estratagemas.” Não tenhamos nenhum truque, irmãos – não falemos aos homens como se fossem crianças que podem ser amendrotados por histórias de fantasmas e de bruxas. O fato é que esse não é o tempo de retribuição, e é pior que inútil que nós ensinemos que o é.

E agora, por último (e já irei passar a outro ponto), por acaso vocês não percebem que essa suposição, que não é cristã nem Escriturística, que quando os homens se encontram inesperadamente com a morte, é resultado do pecado, rouba ao cristão um de seus argumentos mais nobres para a imortalidade da alma? Irmãos, nós afirmamos diariamente, com a Escritura como nossa garantia, que Deus é justo, e na medida em que Ele é justo, deve castigar o pecado, e premiar ao justo. Manifestamente Ele não o faz nesse mundo, e um mesmo evento ocorre a ambos: o homem justo é pobre igual que o mal, e morre repentinamente igual que o maior répobro. Muito bem, a conclusão é natural e clara, que deve existir um mundo contínuo no que essas coisas serão endireitadas.

Se há um Deus, Ele deve ser justo – e se Ele é justo, Ele deve castigar o pecado – e já que não o faz nesse mundo, deve existir outro estado em que os homens receberão a recompensa de suas obras – e os que semearem para a carne, da carne colherão corrupção, enquanto os que semearem para o Espírito, do Espírito colherão vida eterna. Se fizerem desse mundo o lugar de colher, lhe terão tirado o aguilhão ao pecado.

“Oh,” diz o pecador, “se as aflições que o homem suporta aqui é todo o castigo que terão, vamos pecar com voracidade.” Você responde-lhes, “não - esse não é o mundo do castigo, mas sim o mundo de prova – não é a corte da justiça, mas sim a terra de misericórdia; não é a prisão de terror, mas a casa de paciência;” e lhes terá aberto diante de seus olhos as portas do futuro; ter´s posto o trono do juízo diante de seus olhos; recordou-lhes: “Vinde, benditos,” e “Apartai-vos de mim, malditos;” assim, possui um fundamento mais a razoável e consequentemente mais Bíblico para apelar às suas consciências e corações.

Falei com a intenção de sufocar, na medida do possível, a ideia que está muito propagada entre os ímpios, que nós como cristãos sustentamos que cada calamidade é um juízo. Não é assim; nós não pensamos que aqueles dezoito sobre os quais caiu a torre de Siloé eram mais culpados que todos os homens que habitavam em Jerusalém.

II. Agora passamos a nosso segundo ponto. QUE USO, ENTÃO, DEVEMOS FAZER DESSA VOZ DE DEUS QUE É OUVIDA EM MEIO DOS AGUDOS GRITOS E GEMIDOS DOS MORIBUNDOS? Dois usos; primeiro, perguntas, e segundo, uma advertência.

A primeira pergunta que devemos fazer é a seguinte: “Por que não pode acontecer a mim que muito prontamente e inesperadamente seja eu cortado? Tenho eu um contrato de aluguel de minha vida? Tenho algum amparo especial que me garante que não atravessarei inesperadamente os portais da sepultura? Recebi um título de privilégio de longevidade? Fui coberto com uma armadura tal que sou invulnerável às flechas da morte? Por que não irei morrer?”

A segunda pergunta que deve sugerir é essa: “Não sou um grande pecador como esses que morreram? Não há em mim, sim, em mim mesmo, pecados contra o Senhor meu Deus? Se em pecados visíveis outros me superaram, acaso os pensamentos de meu coração não são malvados? Porventura a mesma lei que os amaldiçoa não amaldiçoa a mim também? Não perseverei em todas as coisas escritas no livro da Lei para que se cumprissem. É tão impossível que eu seja salvo por minhas obras como que eles o sejam. Não estou debaixo da lei, por natureza como eles o estão, e pela mesma não estou eu também debaixo de maldição, como eles o estão? Essa pergunta deve ser feita. Em vez de pensar em seus pecados, o quem me converteria um orgulhoso, devo pensar emmeus próprios pecados, o que me converterá humilde. Em lugar de especular sua culpa, que é assunto que não é de minha responsabilidade, devo voltar meus olhos até meu interior, e considerar minha própria transgressãopela qual devo responder pessoalmente diante do Deus Altíssimo.”

Logo, a seguinte pergunta é, “me arrependi de meu pecado? Eu não preciso ficar investigando seeles se arrependeram ou não: eu me arrependi? Posto que eu esteja exposto à mesma calamidade, estou preparado para enfrentá-la? senti, por meio do poder de convencimento do Espírito Santo, a negridão e a depravação de meu coração? Tenho sido guiado a confessar diante de Deus que eu mereço a Sua ira, e que Seu desagrado, se ele pousa sobre mim, será um justo pago? Odeio o pecado: Aprendi a aborrecê-lo? Apartei-me do pecado, por meio do Espírito Santo, como de um veneno mortal, e busco agora honrar a Cristo meu Senhor: Fui lavado em seu sangue: Reflito sua semelhança? Mostro seu caráter? Busco viver para Seu louvor? Pois, se não é assim, estou em grave perigo como eles estavam, e posso ser cortado tão depressa e repentinamente, e logo, onde estou? Eu não irei perguntar onde eles estão? E logo, de novo, em vez de estar espiando no futuro destino desses infelizes homens e mulheres, quando melhor seria nos perguntar sobre nosso destino e de nossa própria situação! –

O que eu sou? minha alma, desperta
E faz uma analise imparcial.”

Estou preparado para morrer? Se as portas do inferno abrem-se agora, eu entraria ali? Se debaixo de mim se abrirem as bocas da morte, estou preparado com confiança para atravessá-las, não temendo o mal, porque Deus está comigo?” Esse é o uso correto que podemos fazer desses acidentes; essa é a maneira mais sábia de aplicar os juízos de Deus a nós mesmos e a nossa própria condição.

Oh senhores, Deus tem falado a cada homem em Londres durante as últimas duas semanas; Ele falou a mim, Ele falou a vocês, homens, mulheres e crianças. A voz de Deus há soado desde o escuro túnel Clayton: falou desde o poente do sol e a deslumbrante fogueira em redor do qual jazem os cadáveres de homens e mulheres, e Ele lhes disse, “Portanto, estai vós também apercebidos; porque virá o Filho do homem à hora que não imaginais. (Lucas 12:40)” Isso está tão dirigido a vocês, que eu espero que os levem a perguntarem-se: “Estou preparado, estou pronto? Estou disposto a enfrentar a meu Juiz e escutar a sentença pronunciada sobre minha alma?”

Quando tenhamos usado a voz de Deus para nos perguntar dessa maneira, permitam-me lembrar-lhes que devemos usá-la também como uma advertência. “Todos de igualmente perecereis.” “Não,” dirá alguém, “não igualmente. Não todos seremos esmagados; muitos de nós morreremos em nossas camas. Não todos morreremos queimados; muito de nós fecharemos tranquilamente nossos olhos.” Ai! Porem, o texto diz “todos de igual modo perecereis.” E deixem-me lembrar-lhes que alguns de vocês podem perecer de uma maneira idêntica. Não possuem nenhuma razão para crer que vocês não podem ser cortados inesperadamente, enquanto caminhem pelas ruas. Podem cair mortos enquanto comem; quantos não têm perecido com o cajado da vida em suas mãos! Estarão em sua cama, e sua cama subitamente se converterá em sua tumba. Vocês poderão ser fortes, sãos, robustos e quer seja por acidente, ou porque a circulação do sangue se detém, serão rapidamente levados diante de seu Deus. Oh! Que a morte inesperada seja para vocês glória súbita!

Porem pode ocorrer a algum de nós que, da mesma maneira surpreendente em que outros morrerem, morreremos assim também. Faz só um pouco de tempo, nos Estados Unidos, um irmão, enquanto pregava a Palavra, entregou seu corpo e seu cargo simultâneamente. Vocês lembram da morte do Dr. Beaumont, quem, enquanto proclamava o Evangelho de Cristo, fechou seus olhos ao mundo. E eu recordo a morte de um ministro nesse pais, que acabava de pronunciar esse verso –

“Pai, eu anelo, eu anseio ver
O lugar de Tua habitação;
Eu quero deixar teus átrios terrenos e fugir
Até Tua casa, meu Deus”

- E então agradou a Deus conceder-lhe o desejo de seu coração, e apareceu diante do Rei em Sua beleza. Não poderia uma morte imprevista como essa suceder a vocês e a mim mesmo?

Porem, é muito certo que, venha a morte de maneira que venha, há alguns quantos aspectos na que virá aos justos da mesma maneira como veio aos que sofreram esses acidentes. Em primeiro lugar, virá, com toda certeza. Eles não teriam tido possibilidade de escapar do perseguidor, não importa qual rápido viajassem. Eles não teriam tido a chance de escapar da seta, não importando a que lugar houvessem ido, escondendo-se de casa em casa, quando seu tempo lhes chegou. E nós pereceremos assim.

Com a mesma certeza, tão certo como a morte colocou seu selo sobre os cadáveres que agora estão cobertos de terra, com a mesma certeza porá seu selo sobre nós (a menos que o Senhor venha antes), pois “aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo (Hebreus 9:27)” Não existe exoneração nesse caminho; não existe escape por nenhum atalho para nenhum individuo; não existe nenhuma ponte sobre o rio; não há nenhuma nave na que possamos passar esse Jordão sem molharmos nossos pés.

Para suas geladas profundidades, oh rio, cada um de nós deve descer – em sua fria corrente nosso sangue deve congelar-se – e debaixo de suas espumosas ondas nossa cabeça deve submergir! Nós também devemos morrer com certeza. “Trilhado” você diz, “e cheio de lugares comuns;” e a morte é um lugar comum, mas que só nos ocorre uma vez. Que Deus nos conceda que essa única vez que morreremos possa estar perpétuamente em nossas mentes, até que morramos diariamente, e assim não nos resulte ser um trabalho difícil morrer ao final.

Bem, então, como a morte chega a eles e a nós com certeza, assim virá tanto a eles como a nóspoderosa e irresistivelmente. Quando a morte os surpreendeu que ajuda tiveram então? Um casebre de papelão de uma criança não poderia ser tão facilmente esmagado que esses pesados vagões? O que podiam fazer para ajudarem uns aos outros? Eles iam sentados uns juntos a outros, conversando. Escutou-se um grito, e antes que houvessem gritado segunda vez, foram esmagados e destroçados. O esposo trata de resgatar dos escombros sua esposa, porem as pesadas tábuas de madeira cobriram seu corpo; ao fim só pode encontra sua pobre cabeça, e ela está morta, e ele senta-se junto a ela embargado pela tristeza, e coloca sua mão em seu rosto, até que se torna frio como uma pedra; e ainda que tenha visto a um e outro que tenha sido resgatado com os ossos quebrados ao meio da massa de escombros, ele têm que deixar o corpo de sua esposa ali.

Ai! Seus filhos ficaram sem mãe, e ele perdeu a companheira de seu coração. Eles não puderam resistir; eles poderiam fazer o que quisessem, porem, tão logo chegou o momento, seguiram adiante, e o resultado foi a morte e ossos quebrados. O mesmo sucederá com vocês e comigo – podem subornar o médico com os honorários mais altos, porem, ele não poderia colocar sangue fresco em suas veias[6] – podem pagar-lhe grandes quantidades de ouro, mas ele não poderia conseguir que o pulso desse outro bramido. Oh, Morte, irresistível conquistadora de homens, não há ninguém que possa prevalecer contra ti; sua palavra é lei, sua vontade é destino! Assim virá a nós como chegou a eles; virá com poder, e nenhum de nós poderá resistir a ela.

Quando a morte chegou-lhes, veio instantaneamente, sem aceitar demoras. Assim virá a nós. Poderíamos ter um aviso mais antecipado do que eles, porem quando chegue a hora, não haverá forma de adiá-la. Encolhe seus pés na cama, oh, patriarca, pois deve morrer e não vai viver! Dá o último beijo em sua esposa, veterano soldado da cruz; coloca suas mãos sobre a cabeça de seus filhos, e dá-lhes a benção do moribundo, pois todas suas orações não podem alargar sua vida, e todas as lágrimas não podem agregar nem uma só gota ao poço seco de seu ser.

Você deve ir, o Senhor manda por você, e Ele não suporta atrasos. Não, ainda que sua família esteja disposta a sacrificar suas vidas para lhe comprar uma hora de trégua, isso não pode ser. Ainda que uma nação seja holocausto, um sacrifício voluntário, para dar a seu soberano outra semana adicional a seu reino, não se pode conseguir tal coisa. Ainda que a congregação inteira consinta voluntariamente em recorrer as escuras abóbadas da tumba para salvar a vida de seu pastor, por mais outro ano, não se pode alcançar esse intento. A morte não aceita atraso – e o tempo chegou, e o relógio soou, a areia da ampulheta consumiu-se, e tão certamente como eles morreram quando chegou-lhes seu tempo, no campo inesperadamente, assim certamente nós devemos morrer.

Logo, novamente, recordemos que a morte chegará a nos como chegou a eles, com terrores. Não com o estrondo de madeiras quebradas, talvez, nem com a escuridão de um túnel, não com o vapor e a fumaça, não com os gritos das mulheres e os gemidos dos moribundos, mas, no entanto, com terrores. Pois se encontrar com a morte onde quer que seja, se não estamos em Cristo, e se a vara o cajado do pasto não nos infundem alento, deve ser uma coisa terrível e tremenda.

Sim, oh, pecador, com suaves almofadas debaixo de sua cabeça, e o terno braço de sua esposa para te sustentar, e uma doce mão para limpar seu frio suor, em seu corpo encontrará que é um terrível trabalho enfrentar o monstro e sentir seu aguilhão, e entrar em seus espantosos domínios. É um terrível trabalho em qualquer instante, mesmo sob as melhores e mais propícias circunstâncias, que um homem morra sem preparação.

E agora quisera eu enviar-lhes de volta para casa com um pensamento que fique gravado em sua memória: nós somos criaturas moribundas, não criaturas viventes, e logo nos teremos ido. Talvez, estando eu de pé aqui, e falando rudemente dessas coisas misteriosas, pronto se estendera essa mão e cerrará minha boca que balbucia com tão gaguejante esforço; o poder supremo, oh Rei eterno, venha quando querias, oh! Porem, nunca venha em uma hora desperdiçada – que me encontres em elevada meditação, cantando hinos a meu grandioso Criador: fazendo obras de misericórdia os pobres e aos necessitados, ou carregando em meus braços aos pobres e necessitados do rebanho; ou consolando o desconsolado, ou tocando o sonido da trombeta do Evangelho aos ouvidos das almas surdas que estão perecendo.

Então, vem quando Tu querias; se Tu estás comigo em vida, não temeria encontra a Ti na morte: mas, oh, que minha alma esteja preparada com seu vestido de bodas, com sua lâmpada preparada e sua luz acesa, pronta para ver a seu Senhor e entra no gozo de seu Deus!

Almas, vocês conhecem o caminho de salvação; o escutaram frequentemente, porem, ouçam de novo: “O que crê no Senhor Jesus, têm a vida eterna.” “O que crer e for batizado, será salvo; mas o que não crer, será condenado.” “Crê em teu coração e confessa com sua boca.” Que o Espírito Santo lhes dê graça para fazer ambas as coisas, e tendo feito, possam dizer –

“Vêm, morte, com uma congregação celeste,
Para levar a minha alma.”


NOTA: Davi Livingstone, o famoso explorador e missionário, levou em seu bolso uma cópia desse sermão, em suas viagens por toda a África. Ele tinha escrito na margem superior da impressão desse sermão o comentário: “Muito bom. D.L” Quando da morte do missionário, essa mesma copia foi entregue ao próprio Spurgeon, que a guardou durante toda sua vida como um tesouro. Hoje em dia, essa copia pode ser vista exposta no Spurgeon’s College, em Londres.

NOTAS EXPLICATIVAS

[1] Referência ao acidente do Túnel Clayton, que ocorreu, 25 de agosto de 1861, cinco milhas a partir de Brighton, na costa sul da Inglaterra, e foi o pior acidente do sistema ferroviário britânico da época. Um trem de passeio bateu em outro que estava parado no túnel, no domingo, matando 23 e ferindo 176 passageiros
[2] Segundo Eric Hayden, pastor do Tabernáculo Metropolitano na década de 60 em “Feitos Notáveis”, é ”uma referência a um acidente ocorrido em Setembro ocorreu outro desastre ferroviário quando um grupo de passageiros viajava à costa sul”
[3] Provável referência ao acidente  da estação de Kentish Town ,ocorrido em 02 de setembro de 1861, em Londres ,onde  16 pessoas foram mortas e 317 feridas, quando um trem de passeio operado pela Ferrovia Norte de Londres colidiu com um trem de carga operado pela London e North Western Railway (WIKIPÉDIA)
[4] O navio “John Williams” era um navio missionário sob o comando do capitão Robert Clark Morgan (1798-1864) e de propriedade da Sociedade Missionária de Londres. Foi nomeado em homenagem ao missionário John Williams (1796-1839), que trabalhou ativamente no Pacífico sul. (FONTE: Wikipédia)
[5] A referência do incidente é sobre o que ocorreu no Surrey Garden Musci Hall em 1856, quando o salão foi alugado para congregar as multidões que iam ouvir Spurgeon nos serviços dominicais, e devido a reformas em New Park Street e a impossibilidade de se alugar o Exerter Hall, se levou adiante o arrendamento temporário do Salão com capacidade para 10.000 pessoas. Na primeira noite de serviços, um tumulto provocado por bardeneiros com falsos avisos de incêndio provocaram uma correria tal que levou a 23 feridos e 7 mortos. (N.d.T)
[6] Não deve se levar em conta aqui as modernas transfusões de sangue (N.d.T)

FONTE:
Traduzido do espanhol Accidentes, No Castigos, tradução de Allan Román, com autorização e permissão deste para o português para o Projeto Spurgeon , de http://www.spurgeon.com.mx/
Orem diariamente pelos irmãos Allan Roman e Thomas Montgomery, da Cidade do México para o sucesso dessa obra em espanhol

Todo direito de tradução protegido por lei internacional de domínio público
Sermão nº 408—Volume 7 do Metropolitan Tabernacle Pulpit
ORIGINAL: Accidents, Not Punishments